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Entrevista à Revista STATUS
O Dr. Elsimar Coutinho é um dos poucos brasileiros que realmente podem se orgulhar de ser uma celebridade entre seus pares no mundo inteiro. Nos últimos 20 anos, ele tem participado, sempre a convite, de congressos internacionais sobre reprodução humana em cidades como Milão, Londres, Santiago, Buenos Aires, Tel Aviv, Nova York, Cidade do México, Estocolmo, Hamburgo, Tóquio, Nova Orleans, Washington, Genebra, Caracas, Bucareste, Lima, Cairo, Barcelona, Miami, Veneza, Madri, Paris, Roma, Chicago e até na Tailândia e no Havaí. Em vários desses congressos, foi o orador principal. Somem a isto conferências, simpósios e seminários em praticamente todas as capitais brasileiras – principalmente em Salvador, Bahia, onde vive, trabalha e realiza as pesquisas sobre reprodução, anticoncepção e sexualidade que assombram seus colegas de outros países.
O Dr. Elsimar Coutinho tem 52 anos e é o pioneiro da andrologia (uma espécie de ginecologia para homens) no Brasil e um dos primeiros do mundo na especialidade. Tecnicamente, é um endocrinologista, mas a multiplicidade de suas competências tornou-o reconhecido internacionalmente como um especialista em reprodução humana – o que lhe permitiu, em 1970, ser escolhido com outros dez cientistas de vários países para constituir o grupo diretor do Programa de Pesquisar em Reprodução Humana da Organização Mundial de Saúde, da qual é até hoje conselheiro, como também o é da Fundação Rockfeller.
Entre outras atividades, o Dr. Elsimar, atualmente, é também presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana, membro atuante da Sociedade Brasileira de Andrologia (da qual foi o primeiro presidente), chefe do Departamento Materno-Infantil da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (onde criou a disciplina de Reprodução Humana) e membro do corpo editorial de seis revistas médicas internacionais, nas quais publicou ate agora cerca de 2(?) trabalhos, além de três livros lançados nos Estados Unidos.
O currículo do Dr. Elsimar Coutinho ocuparia, sem exagero, a metade de Status. Mas não é esta a impressão que se tem ao visitá-lo, na sua confortável casa em Salvador, debruçada sobre o mar de Ondina, onde ele recebe os amigos com Kir royal e uma inacreditável peixada regada a Dom Pérignon – complementada por charutos cubanos e café sem cafeína. Apesar da excelência ao receber, tudo nele é simplicidade. A simplicidade de quem compreende cristalinamente o uso de certas funções que, para nós, parecem complexas, mas que nos próprios praticamos no dia-a-dia, só que ás cegas: nascer, amadurecer, fazer sexo, ter filhos, evitá-los, sentir prazer, envelhecer. Só que, tudo isso, com uma constante e fascinante comparação com o que se passa no mundo animal – do qual, como se verá nesta entrevista, continuamos mais perto do que pensamos.
Entre outras descobertas que revolucionaram a medicina moderna, o Dr. Elsimar foi o criador da primeira pílula anticoncepcional masculina e trabalha agora no aperfeiçoamento da pílula vaginal, também de sua criação. Para os leitores de Status, no entanto, toda a pioneira e excitante trajetória do Dr. Elsimar Coutinho pelos caminhos da reprodução humana tornou-o um inestimável conhecedor dos mecanismos da sexualidade – dos quais ele fala aqui com a autoridade de um cientista moderno e aberto, para quem o relacionamento entre homem e mulher não tem segredos. Duvidam? Então leiam.
“EU JÁ DISSE QUE O PIOR INIMIGO DO IMPOTENTE É O PSIQUIATRA. PORQUE QUASE NUNCA ELE SE PREOCUPA COM OS FATORES ORGÂNICOS.”
STATUS – Muitas pessoas ficaram surpreendidas recentemente com a revelação de que a maioria dos casos de impotência é de origem orgânica, e não psicológica. Havia motivo para tanta surpresa?
DR. ELSIMAR COUTINHO – Hoje não, mashá 10 anos, sim. Foi quando nos começamos a trabalhar em reprodução masculina, aqui na Bahia, e descobrimos que as causas que já eram aceitas como responsáveis pela infertilidade masculina também poderiam ser responsáveis pela impotência. Ninguém cogitava disso ate então, em qualquer outro país.
STATUS – E que causas eram essas?
ELSIMAR – Bem, a causa mais freqüente de infertilidade masculina é a varicocele, que são as varizes no testículo. Qualquer pessoa que sofra de hemorróidas ou de varizes nas pernas – ou cujos familiares tivessem tendência a um processo varicoso – está sujeita á varicocele. Os indivíduos portadores de varicocele produzem uma quantidade muito pequena de espermatozóides, e mesmo esses poucos que eles produzem são espermatozóides fracos, com pouca capacidade de deslocação e por isso pouco férteis. Se você comparar o tamanho de um homem com o de um espermatozóide, o espermatozóide tem de nadar o equivalente a uns 10 quilômetros para alcançar um óvulo. Quer dizer, tem de ser muito bom nadador. (Risos)
STATUS – Que relação tem isso com a impotência?
ELSIMAR – Toda. Nós verificamos que os pacientes portadores de varicocele tinham uma deficiência endócrina que se manifestava por um testículo atrofiado. Isso deveria ter uma repercussão na área sexual. Começamos a estudar o assunto e vimos que muitos pacientes que se queixavam de impotência eram portadores de varicocele. Alguns anos depois, pudemos concluir que esses casos estavam na ordem de 60 a 70%. Não tivemos mais dúvidas. E daí, passamos para a segunda etapa: a da verificação.
STATUS – Como foi isso?
ELSIMAR – Passamos a operar os pacientes para ver se, corrigida a varicocele, eles recuperavam a potencia. Alguns casos se tornaram folclóricos entre nós, como o do primeiro paciente que operamos de varicocele com esta finalidade. Tratava-se de um gaúcho, que veio de ônibus lá do interior do Rio Grande do Sul nos procurar aqui na Bahia, porque tinha sabido das nossas pesquisas. Era um rapaz alto, bonitão, de 20 anos de idade, impotente desde os 13 e toda a cidade sabia do problema dele. Aquilo chocava, as moças com quem ele se relacionava não entendiam como um indivíduo tão jovem podia ser impotente, e ele se sentia desmoralizado. Chegou aqui, eu o examinei e ele tinha varicocele.
STATUS – E aí?
ELSIMAR – Nós o operamos e, em dois meses, tinha-se tornado um homem normal. Hoje é casado, tem filhos e me telefona de vez em quando, afirmando que aquela operação salvou a vida dele. E certamente salvou. Isso aconteceu, creio, em 1975, e esse gaúcho foi o primeiro homem no mundo operado de varicocele para deixar de ser impotente. Depois dessa, já realizamos dezenas de operações do gênero.
STATUS – Quem mais é capaz de realizar essas operações?
ELSIMAR – Bem, hoje em dia, os estudos sobre a relação entre varicocele e impotência têm sido tão divulgados, em conferências e trabalhos científicos, no Brasil e no Exterior, que muitos urologistas em São Paulo e no Rio de Janeiro passaram a operar. O que acontece é que, às vezes, o indivíduo tem varicocele e não se queixa de impotência, porque ela ainda não começou a afetar seriamente a vida dele. Se ele faz sexo uma vez por mês, provavelmente acha que aquilo é natural e se conforma. Ninguém se queixa por não ter as ereções que não deseja ter. (Risos) Mas, se ele não fosse portador daquela varicocele, teria relações três vezes por semana, entendeu? Ele só vai se queixar no dia que a companheira lhe exigir um comportamento sexual satisfatório.
STATUS – Quer dizer que está descartada a idéia da impotência de origem psicológica?
ELSIMAR – Não. A impotência de fundo psicológico existe. E até mesmo as impotências de causa orgânica têm um componente psicogênico. O melhor exemplo é o de um indivíduo que tenha tido uma lesão nervosa causada, digamos, por poliomielite. Ele tem uma deficiência nas pernas que o obriga a usar uma cadeira de rodas. Aí ele trata aquilo, faz fisioterapia e melhora. Já pode andar de novo. Mesmo assim, ainda não tem coragem para competir numa maratona, porque sabe que vai perder. A deficiência orgânica foi corrigida, mas a psicogênica continua, porque ele já perdeu tantas vezes que desenvolveu uma covardia para competir. No caso da impotência, pode acontecer o mesmo. Logo, a causa psicogênica é importante. Mas mais importante ainda é a causa orgânica, que existe na maioria das vezes e que não é localizada pelo psiquiatra.
STATUS – É verdade que os psiquiatras, psicanalistas, psicólogos e sexólogos dificilmente estão habilitados a descobrir causas orgânicas num caso de impotência?
ELSIMAR – Olhe, há alguns anos eu fiz uma declaração num Congresso Brasileiro de Reprodução Humana, aqui na Bahia, e que teve a maior repercussão. Eu disse que o pior inimigo do impotente é o psiquiatra. Porque o psiquiatra quase nunca se preocupa em fazer uma investigação detalhada de possíveis causas orgânicas numa impotência, e só quer saber das causas psíquicas. Ora, isso liquida com o impotente, porque ele não vai ficar bom. Os psiquiatras protestaram, dizendo que eu estava afastando os clientes deles, e eu reafirmei que tinha dito exatamente o que eu queria dizer. O psiquiatra deve ser, no máximo, um importante elemento de apoio no tratamento de uma impotência, mas nunca – eu disse nunca – deve ser procurado em primeiro lugar.
STATUS – Isso não é um pouco radical?
ELSIMAR – Não. Foi até bom que eu tenha chocado tanto na época, porque chamou a atenção para um ponto importante. Existem os bons psiquiatras e os maus psiquiatras. E o mau psiquiatra, aquele que tem uma clínica pequena, vai querer tratar do impotente de qualquer maneira. Houve um episódio aqui na Bahia que me horrorizou. Um paciente me procurou, com uma enorme varicocele, dizendo que vinha se tratando com psiquiatras há cinco anos, que não havia dinheiro que chegasse e nada dele deixar de ser impotente. Eu lhe sugeri a operação. Ele foi operado e ficou bom. Um ano depois, ele me contou que se tinha encontrado com seu antigo psiquiatra, com quem havia se tratado por um tempo enorme, e lhe contado sobre a operação e de como tinha ficado bom. Pois sabe o que o psiquiatra lhe disse? “Ah, isso é passageiro, o senhor vai piorar de novo.” Quer dizer, o psiquiatra fez a psicoterapia negativa, para garantir á volta do paciente á sua cadeira…. Eu acredito que a maioria dos psiquiatras não faria uma coisa dessas – mas muitos fariam, entendeu? Até por ignorância, por falta de conhecimento de endocrinologia e muito menos de andrologia. Como é que a psicoterapia vai tratar de um testículo atrofiado? Eu me pergunto até se os psiquiatras examinam o paciente para ver se ele tem testículo!
STATUS – (Risos) – E a história da tia, pela qual todo mundo se apaixona quando criança, e etc.?
ELSIMAR – Pois é, quem não teve uma tia ou uma prima pelas quais se apaixonou e saiu traumatizado? Quem não teve um incidente relacionado a sexo, durante a infância, e que nos marcou pela vida? Todo mundo teve – porque o sexo é o motivo da vida de todos nós. Então o psiquiatra diz: “Pois foi isso! Vamos trabalhar aí”! Anos e anos depois, o psiquiatra não perdeu nada – ao contrário -, e o pobre do paciente está liquidado.
STATUS – Bem, se o impotente não deve procurar primeiro o psiquiatra, quem ele deve procurar?
ELSIMAR – O urologista. Se na cidade dele não tem, ele vai encontrar um em qualquer grande centro. A operação da varicocele é relativamente simples e acessível a todos os urologistas.
“OS REMÉDIOS USADOS PARA CONTROLAR A HIPERTENSÃO PROVOCAM IMPOTÊNCIA. AÍ SURGE O DILEMA: CONTINUAR VIVO OU SE ARRISCAR A MORRER FELIZ…”
STATUS – Até agora, o senhor se concentrou na varicocele. Quais são as outras causas de impotência?
ELSIMAR – Várias. Uma delas é o diabetes. Há também causa vasculares não associadas à área venosa, mas à arca arterial, e que se manifestam, por exemplo, através da hipertensão arterial. No caso da hipertensão, a situação é pior ainda porque os remédios usados para controlar a hipertensão podem provocar impotência. O sujeito fica entre a cruz e a caldeirinha.
STATUS – O senhor pode declarar o nome desses remédios?
ELSIMAR – Quase todos os hipotensores diminuem a capacidade de manutenção da ereção – porque o hipotensor provoca um relaxamento dos esfíncteres que mantêm o sangue nos corpos cavernosos. Então, a situação é assim: se ele não toma o remédio, ele fica hipertenso e pode ter um enfarte e morrer; se ele toma o remédio, os esfíncteres ficam relaxados e apesar de o enchimento de sangue se fazer e ele ter uma ereção, a ereção se desfaz imediatamente.
STATUS – Existe uma saída?
ELSIMAR – É engraçado que quase todos aqueles que têm a doença – e que descobrem que a medicação é pior que a doença, no que diz respeito á sexualidade – preferem parar de tomar o remédio, para não deixarem de ter uma vida sexual. Homens que já tiveram diversos enfartes e derrames vêm me dizer: “Doutor, se o remédio me impede de ter ereção, prefiro morrer.” O que o médico pode fazer é aconselhá-lo: “É melhor você ficar vivo, tomando o remédio, e cuidar da sua família.” Mas ele pode achar que não, que a família já pode cuidar de si, os filhos já estão crescidos e ele, que está num segundo casamento, não quer deixar de ter a vida sexual. Eu mesmo tenho um paciente que há cinco anos não toma os remédios, já teve uma sucessão de enfartes e tem uma intensa vida sexual. O problema é que, no momento do orgasmo, o indivíduo – qualquer um – tem uma violenta hipertensão arterial.
STATUS – Então, o indivíduo que já seja hipertenso…
ELSIMAR – Pode ter até um derrame. Muitos homens hipertensos morrem no momento de um orgasmo. Um indivíduo que tenha arteriosclerose e hipertensão, é que não tome os agentes hipotensores porque eles provocam impotência, é um candidato sério a morrer durante um ato sexual bem sucedido, no exato momento do orgasmo.
STATUS – Pelo menos, morre gloriosamente!
ELSIMAR – (Risos) – Jorge Amado, em Tereza Batista Cansada de Guerra, faz um personagem morrer desse jeito. Aliás, acho que qualquer homem preferia morrer assim – porque é uma morte que, realmente, só incomoda os parentes e familiares, que ficam tremendamente embaraçados inventando uma história que explique como ele morreu na cama, feliz e tal. (Risos).
STATUS – O senhor diria que a impotência é um problema grave no Brasil?
ELSIMAR – Há poucos meses, em outro congresso sobre reprodução humana, eu procurei classificar aquilo que chamei de impotência da pobreza. É o caso do indivíduo que por razões sócio-econômicas, está incapacitado para ter as ereções que gostaria. Esta é a causa mais freqüente de impotência no Brasil. No indivíduo maduro, então, é ainda pior, porque ele precisa ter uma provocação adequada, e essa provocação tem de partir do sexo oposto. A mulher dele já não o estimula, porque teve vários filhos, se deformou, já está na menopausa, é uma ótima mãe e talvez avó, e ele até prefere que ela não tire a roupa na sua frente. Ou seja, não é mais a mesma mulher com quem ele se casou. Será esse o estímulo adequado para um homem na idade madura, que já está com a produção de testosterona diminuída? Então ele necessita de um estímulo maior para ter ereções – maior do que ele tinha quando era jovem, porque, quando era jovem, qualquer mulher lhe servia. E então eu pergunto a ele: “Mas você já testou a sua capacidade sexual com uma mulher mais jovem e mais atraente?” E ele responde que não, porque como é que ele ia testar? “Com o que eu ganho não dá nem para sustentar a família, economizei um ano para vir fazer uma consulta com o senhor. Sou um homem acabado”, ele diz. Isso é a impotência da pobreza. Porque, se ele fosse um “homaço”, famoso e colunável, convidaria para a casa ou para o iate dele uma meia dúzia de mulheres jovens e atraentes e as ia testando uma por uma – como os ricos podem fazer -, até encontrar aquela que despertasse a sua sexualidade. Mas, como isso está fora do seu alcance, ele só pode ser despertado pela secretária do seu próprio chefe, que é uma mulher lindíssima, de 25 anos e que nem sabe da sua existência.
STATUS – Não é um quadro muito pessimista?
ELSIMAR – Não. É assim mesmo. E o drama da mulher madura é maior ainda que o homem maduro, porque ela nem tem a chance de sair por ai testando a sexualidade dela, como o homem às vezes tem, procurando um inferior hierárquico. Então, a saída para o idoso ou para a idosa é – infelizmente – a de colocar a sexualidade nun nível mais abaixo de interesse do que o que existe no indivíduo jovem. É colocar o sexo no seu devido lugar e começar a se interessar por outras coisas – embora eu ache que nenhum velho deve se afastar da oportunidade de praticar o sexo, porque pode-se praticar o sexo até a morte. O problema é que só se deve praticar o sexo na oportunidade adequada e, para o idoso, toda oportunidade parece inadequada. É por isso que o último recurso dos velhos – e isso não é um conselho, mas uma constatação – é a masturbação. O velho volta a ser criança até nisso.
STATUS – Voltando a impotência: existe a impotência incurável?
ELSIMAR – Existe. Uma lesão medular, por exemplo, é incurável, e impede o indivíduo de mexer não só com o órgão sexual como até com as pernas. Existem lesões degenerativas da medula que não o impedem completamente de andar, mas que o fazem puxar a perna e não permitem a ereção.
“UM INDIVÍDUO MUITO TENSO, MUITO PREOCUPADO COM A SUA VIDA SEXUAL, SÓ TEM EREÇÕES QUANDO ESTÁ DORMINDO. E, ÀS VEZES, AO DESPERTAR.”
STATUS – A pergunta parece ridícula, mas, medicamente falando, como se dá a ereção, em português claro?
ELSIMAR – Todo homem normal tem ereções, porque ela surge quase que como um fenômeno passivo. Para ter uma ereção, o indivíduo tem que estar totalmente relaxado. Porque, para que os corpos cavernosos se encham, é preciso que haja relaxamento, e não contração. As pessoas, ás vezes, associam a ereção a um músculo contraído, quando é justamente o contrário, por que só então o sangue pode penetrar. Um indivíduo muito tenso, muito preocupado até com a sua própria vida sexual, só tem ereções quando está dormindo e, muitas vezes, acorda com uma ereção. Durante muito tempo se pensou que a ereção matinal era provocada pelo enchimento da bexiga.
STATUS – O famoso “tesão de mijo”?
ELSIMAR – Isso mesmo, e no mundo inteiro. Em inglês, chama-se full-bladder erection, ou ereção pela bexiga cheia. Ora, bexiga cheia não provoca ereção em ninguém. Se não, a pessoa bebia um litro d’água e estava resolvido o problema, não? E, se ele é um indivíduo tenso, a ereção vai embora muito antes dele esvaziar a bexiga. (Risos) No caso do sono, o que dá ereção ao homem é o desligamento completo da inibição do córtex cerebral – porque o córtex é sempre inibidor. Quando se corta o pescoço de um homem, ele tem ereção e até ejacula. Os enforcados e guilhotinados têm ereção depois de mortos.
STATUS – No duro?
ELSIMAR – Veja o caso da sexualidade animal. Existe um inseto chamado louva-a-deus, que é verdinho, meio agressivo e tem um hemipênis – uma espécie de canaleta aberta, recortada, como os répteis também têm. O louva-a-deus só têm ereção depois de morto. Ele tem uma visão muito fraca, só vê sombras, e para a maioria desses insetos, se a sombra é grande, eles fogem, mas, se a sombra é pequena, eles comem. São os instintos da sobrevivência e da reprodução – exatamente como no homem… Mas, no caso do lova-a-deus, o macho se aproxima da fêmea e ela vê aquela sombra quase do tamanho dela – é um bichinho bom de comer, não é? Ela, então, se aproxima dele e eles colocam as mãos, como se estivessem naquela de dançar como antigamente: o macho procurando encostar a parte baixa do corpo e a fêmea procurando aproximar a parte alta, porque ela quer comê-lo. Ele afasta a cabeça e se empurra por baixo; ela, ao contrário. Até que…
STATUS – Chocante!
ELSIMAR – (Risos) Até que o macho consegue encostar, e aquele contato faz com que ele perca o cuidado de afastar a cabeça. E a fêmea lhe corta o pescoço e a cabeça rola. E só então ele pode ter ereção e penetrar.
STATUS – E aí, ele fecunda?
ELSIMAR – Fecunda, mas morre. Porque ele perdeu a cabeça, literalmente. É o único caso em que o macho perde fisicamente a cabeça por um amor. Ele tem que desligar drasticamente o córtex para ter ereção. Mesmo que isso lhe custe a cabeça. Depois a fêmea o come inteiro – também literalmente.
STATUS – É o mesmo caso do zangão e da abelha?
ELSIMAR – Com o zangão é um pouco diferente, porque ele também morre, mas a abelha não o come. Veja bem: a abelha-rainha parte e os machos voam todos atrás dela. É uma competição através da qual ela escolherá aquele que for o melhor, porque os outros morrerão no meio do caminho, será aquele que fará filhos nela. É assim que as fêmeas escolhem os machos, e é assim que a fêmea humana também faz. Quer dizer, o processo da fêmea é passivo, porque ela nunca toma a iniciativa de dizer: “Eu quero aquele.” Ela não quer errar, ficando passiva, esperando que a posse dela seja disputada, ela tem a segurança de que vai ter um filho do melhor – porque é ele que vai ganhar a posse dela. E ela quer é um filho do melhor.
STATUS – Isto se aplica mesmo em relação aos – como se diz mesmo? – humanos?
ELSIMAR – Sempre se aplicou. Nas ligas da Idade Média, os homens se batiam em justas e a princesa aceitava o ganhador – o melhor -, mesmo que ele fosse feio e bruto. Não importava, ela queria um filho do melhor e aquilo era uma coisa estabelecida pela sociedade da época. Porque, quando a mulher escolhe, ela pode praticar um erro de pessoa – por exemplo, escolher um impotente.
STATUS – E, na opinião dela, qual é a melhor escolha?
ELSIMAR – Para qualquer mulher, a melhor escolha é a de um homem que já tenha aprovado a sua fertilidade e a sua sexualidade. É aquele indivíduo que ela sabe que estudou que trabalha, que seja hábil, querido, procurado pelas outras mulheres e respeitado pelos outros homens. É por isso que os homens de sucesso tem um grande sucesso com as mulheres – porque, instintivamente, elas querem um filho dele, entendeu? Ela se impressiona por ele ser um vencedor. E, quanto mais velho, melhor, porque, também através da idade, ela sabe que vai ter um filho longevo, que vai viver muito.
STATUS – Será?
ELSIMAR – As mulheres, instintivamente, sabem que o melhor é ficar esperando, porque o melhor homem será aquele que vai conquistá-la. O máximo que ela pode fazer é provocar um pouco de disputa entre aqueles que ela considera candidatos razoáveis – isto é, dar alguma bola para todos. Ela os encoraja para que eles disputem – porque, se ela se torna inteiramente passiva, pode dar a entender que não se interessa por nenhum.
“O MACHISMO É UMA CONSEQUÊNCIA DA TREMENDA INSEGURANÇA A RESPEITO DA PATERNIDADE. UMA INSEGURANÇA QUE AS FÊMEAS NÃO TÊM.”
STATUS – Isso vai atrair a ira de todas as feministas deste país…
ELSIMAR – Mas a gente tem de dizer a verdade, não é? Quando eu digo isso nas minhas aulas, as alunas replicam: “Mas o senhor é um machista!” Tudo bem – só que elas querem que o filho delas seja macho. Como é que elas vão ter um filho macho se o pai dele não for? E macho não é machista. Eu não sou machista, e acho que o feminismo – se bem definido – precisa até ser mais difundido, porque as mulheres realmente devem ter mais direito do que os homens. Elas são mais importantes, elas arcam com as responsabilidades da perpetuação da espécie e deveriam até ter o direito de viver sem trabalhar.
STATUS – O que freqüentemente acontece, não?
ELSIMAR – E por que não? Uma mulher só pode fornecer um filho por ano. Um homem pode fazer 500. Então você, como um homem só, pode ter 500 filhos, mas vai precisar de 500 mulheres. Então é importante que elas sejam preservadas – porque, se elas levam um ano para ter um filho, levam uma vida para desenvolvê-lo e educá-lo. Tudo bem com o feminismo – só não se pode mudar a natureza.
STATUS – Como assim?
ELSIMAR – Veja a questão do ciúme. O ciúme do homem e da mulher são dois ciúmes diferentes. Suas origens são completamente diversas. O machismo é caracterizado por uma ação ciumenta, porque o macho, geralmente, manifesta o seu ciúme de uma maneira violenta e aparentemente inexplicável para a mulher. E é através desse ciúme que ele exibe as suas mais odiosas qualidades de macho, porque ele passa a exigir da mulher uma presença constante, não permitindo que ela saia com as amigas e muito menos com os amigos. Ou seja, ele impõe uma ação fiscalizadora aparentemente injustificada, porque supostamente a mulher teria o mesmo direito de andar pela cidade como ele anda, para onde quiser e na hora que quiser. Só que o homem faz aquilo porque não pode fazer de outra maneira. O ciúme do homem é uma coisa instintiva, que ele próprio às vezes não entende, mesmo o civilizado – por que todo animal do sexo masculino tem ciúmes.
STATUS – Por exemplo?
ELSIMAR – O animal não fala. O cavalo, por exemplo, não diz para a égua que não se aproxime de outro cavalo. Mas atua de tal modo a impedir a aproximação de outro macho. Isso faz o cavalo, como faz o galo, o carneiro ou qualquer outro macho, inclusive o homem: impede a aproximação de outro macho, às vezes de maneira violenta ou agressiva. O homem é um macho como outros, e, antes de ser homem, é um animal, e o instinto dele faz com que se comporte em relação à sua fêmea como os outros animais, afastando-a dos demais machos. E por que o macho humano faz isso? Para se assegurar de sua prole. Porque ele sabe que, se a fêmea se aproxima de outro macho, ela pode engravidar do outro, e, se ela engravidar do outro, ela estará impedida de engravidar dele; e ele só existe na Terra para ter filho. Que outra função esse animal teria na Terra a não ser a de ter filho? Donde a fêmea tem que estar desocupada, para que ele possa sobreviver como espécie.
“SE O INDIVÍDUO FOR SADIO, ELE TERÁ A SUA SEXUALIDADE PRESERVADA ATÉ A MORTE, NÃO IMPORTA QUE VIVA 100 ANOS.”
STATUS – E como esse macho faz?
ELSIMAR – Cada macho tem um mecanismo para liquidar com os outros machos. Há aqueles que matam os filhos que não são seus, como o leão. O leão encontra uma fêmea grávida de outro. Como ela não consente a cópula antes de parir, ele a acompanha até ela expelir os filhotes e os mata a todos. E é imprescindível que ele os mate porque, se não, ela fica amamentando e, enquanto isso, não ovula para ficar grávida dele. Então ele mata os filhotes, ela para de amamentar, cruza com ele umas 50 vezes em 24 horas e engravida.
STATUS – Uau! 50 vezes por dia!
ELSIMAR – (Risos) Já o cão faz diferente. A fêmea no cio atrai todos os machos e eles sabem disso. Sabem também que todos os machos farão o possível para conquistá-la. Então, qual é o mecanismo do cão? É um mecanismo orgânico. Ele cruza com a fêmea e, ao momento em que ejacula, tem uma vasocongestão peniana que o impede de retirar o pênis da vagina dela. Enquanto eles estão grudados, o espermatozóide dele fertiliza a fêmea e impede que os outros machos se aproximem.
STATUS – E como é que o homem faz?
ELSIMAR – O homem não dispõe desse mecanismo e nem pode fazer como o leão. Ao mesmo tempo ele sabe que a mulher atraente desperta a sensualidade de todos. O instinto dele lhe diz que, se ela tiver a oportunidade e a liberdade, poderá ser conquistada por outro. Então, para impedir que ela se exponha a uma sedução, ele proíbe que ela freqüente lugares que não estejam ao seu alcance ou nos quais ele não esteja presente. E, quando ele não manifesta esse ciúme, ele sofre, porque está contraindo a sua natureza. É por isso que a mulher não pode exigir que o homem deixe de ser esse tipo de machão. O que ele pode fazer é tentar moderar essas manifestações.
STATUS – E como é o ciúme da mulher?
ELSIMAR – É puramente cultural e não tem nada a ver com o instinto reprodutivo, porque a mulher não se importa com quem faz o filho nela, desde que seja o melhor, como nós já dissemos. O marido dela é um produto da civilização, que lhe deu um homem permanente. Quando a mulher se revolta porque o seu homem está dando umas voltinhas por aí com outras é apenas porque ele está infringindo as regras do jogo. Não é um ciúme instintivo – tanto que as mulheres que vivem num harém não têm ciúme umas das outras. Aqui mesmo no Brasil existem diversos homens que têm haréns, vivem com quatro, cinco mulheres, e todas se dão muito bem. O ciúmes da mulher se origina da sua insegurança do ponto de vista biológico. As odaliscas do sultão não têm nenhuma razão para se preocupar com o futuro delas, porque ele sustenta a todas. Então, de acordo com o local e a época histórica, o ciúme da mulher será maior ou menor, mas o do homem será sempre igual, desde o tempo das cavernas. As fêmeas dos animais não têm ciúmes – uma galinha é completamente indiferente das outras galinhas com quem o galo venha a cruzar -, mas o macho não tolera a aproximação de outro e a natureza lhe dá as condições de lutar e liquidar com o rival. O macho é sempre mais forte que a fêmea, e é a testosterona que dá a ele essa agressividade. E ao homem também. E é isso que as feministas têm de compreender.
STATUS – Isso não denota uma insegurança do macho?
ELSIMAR – Denota, e é perfeitamente justificada. O machismo é uma conseqüência da tremenda insegurança de todos os machos a respeito da paternidade. Uma insegurança que as fêmeas não têm, porque elas sabem que todos os filhos que tiverem são delas, não importa o pai. A fêmea não pode ser corneada, entendeu? E essa história da mulher que fica uma fera porque “ele saiu com a outra na minha vista” é idiota, ridícula. (Risos)
STATUS – Vamos voltar à impotência. O que faz com que as pessoas diminuam o ritmo de vida sexual com a idade?
ELSIMAR – Isso não tem nenhuma relação direta com a idade. Se o indivíduo for sadio, ele terá a sua sexualidade preservada até a morte, não importa que viva 100 anos. Ele terá ereções dormindo, por exemplo. O problema é que, com o passar dos anos, a ação inibidora do córtex vai-se tornando maior. Tudo passa a ser motivo de inibição. O relacionamento desse homem com o mundo cresce, suas responsabilidades aumentam, o indivíduo é candidato a presidente disso ou daquilo, há o problema do neto que foi preso ou que fuma maconha – enfim, tudo isso se acumula no córtex. Se ele consegue retirar o córtex da jogada, têm ereções tranquilamente e pode ser um parceiro sexual maravilhoso. Os líderes do mundo costumam ser homens muito velhos, mas com uma capacidade física e mental enorme. Veja o caso de Adenauer, De Gaulle, Stalin, Mao Tsé – Tung, Reagan…
STATUS – Não me parece que a capacidade mental do Reagan tenha aumentado muito.
ELSIMAR – (Risos) Mas também não diminuiu. Se o sujeito enfrenta uma terrível rally race para chegar a presidência dos Estados Unidos e consegue, com aquela idade, é porque tem alguma coisa que muitos outros não têm. O problema é que o organismo vai sendo de tal maneira atacado por vírus, micróbios, etc., que começa uma destruição muito rápida das células, inclusive as do cérebro. E como a famosa história do velhinho: “Doutor, estou com um problema, tenho 80 anos e vivo correndo atrás das moças. Só que, quando eu chego lá, já me esqueci para quê.” (Risos)
STATUS – O que é preciso para que a sexualidade não decline com a idade?
ELSIMAR – Eu costumo resumir em três pontos: confiança, costume e calma. A confiança é indispensável até para o animal. Os coelhos, por exemplo, são animais que copulam logo que são colocados em contato, porque a coelha tem um cio permanente, exceto quando grávida. Jogue uma coelha na gaiola de um coelho – os dois cruzam imediatamente. Agora faça o contrário e jogue o macho na gaiola da fêmea – ele primeiro vai cheirar a gaiola toda, certificar-se de que ali não há o cheiro de outro macho e, se houver, ele urina em cima, para tornar aquela gaiola o seu território. E só então cobre a fêmea. Isso é instintivo e se aplica também ao homem. Ele precisa ter certeza de que, de alguma maneira, está no seu território, para ter uma ereção.
STATUS – E os outros dois itens?
ELSIMAR – O costume não tem a ver com o instinto, e sim com a interferência cortical, e está relacionado á experiência sexual prévia do homem. Todo homem que teve muitas experiências sexuais sabe que algumas foram felizes, outras não tanto. Umas parceiras o colocam á vontade, outras o inibem. Pegue um homem desses e lhe diga: “Esta moça foi Miss Brasil do ano passado e está a fim de ir para a cama com você agora.” A moça entra, fica nua e diz que está pronta. Mas, e ele, estará? Só a preocupação de não falhar poderá fazer com que ele falhe. Mas é possível que, com uma ereção espontânea durante o sono, ele consiga alguma coisa com ela e, aí, já será meio caminho andado. De alguma forma, isso é o costume. E o terceiro item não precisa de muitas explicações: é a calma. Se o indivíduo estiver com pressa ou afobado, é porque a córtex está interferindo, e ela tem de ser excluída do processo sexual.
STATUS – Estou surpreso de ver o senhor, um médico organicista, declarando coisas que seriam endossadas por um psicanalista…
ELSIMAR – Mas tudo está condicionando a um perfeito funcionamento orgânico. Depois é que entra o componente psicológico. Lembra-se do gaúcho de quem lhe falei? Impotente desde os 13 anos e operado de varicocele aos 20. Internado nun hospital de outro Estado, operado num lugar estranho, com sala de cirurgia, anestesia e aquela coisa toda. Pois acordou da cirurgia e já estava com uma ereção!
STATUS – É mesmo?
ELSIMAR – Estava. Até chamou todo mundo do hospital para ver! É claro que não era uma ereção normal, como as muitas que ele viria a ter depois. Era uma reação provocada pela manipulação, pela própria cirurgia e pela retenção sanguínea. Mas esta foi a psicoterapia dele…
STATUS – Na sua clínica, o senhor costuma observar casos de homens de 30 e poucos anos, que deveriam estar no esplendor de sua vida sexual, e que manifestam uma surpreendente diminuição da libido?
ELSIMAR – Esse tipo de impotência passageira num homem dessa idade não é nada anormal – ao contrário. É o momento em que a córtex cerebral começa a interferir demais, porque ele está numa passagem difícil da vida, talvez mudando de emprego, não sabe o que vai ser, já tem problemas com os filhos e não sabe se gosta tanto da mulher como antigamente. Enfim, tem uma série de problemas que provocam uma diminuição da libido.
STATUS – Então, isso tem causas orgânicas?
ELSIMAR – Não, aí não. É uma coisa que se cura, às vezes espontaneamente, com uma experiência extraconjugal. Sabe o que determina um bom relacionamento sexual? (Risos) É como jogar tênis. Só vai jogar bem quem estiver jogando regulamente. Se o indivíduo para de jogar meses, na primeira em que ele voltar, vai jogar mal, vai cansar rápido, não vai agüentar 10 minutos. E isso se aplica ainda mais para o sexo, que exige uma participação física e psíquica muito grande e coordenada. E há outros fatores para que o homem de 30 e poucos anos apareça desinteressado.
STATUS – Tais, como?
ELSIMAR – A mulher dele ficou grávida, por exemplo. Com a gravidez, o relacionamento sexual diminuiu ou se modificou. Depois, vem uma fase importante de desvinculação afetiva, porque a mulher se vinculou mais ao recém – nascido. Ela está amamentando e, com isso, a mama deixou de participar do ato sexual – e a mama é um elemento indispensável, até para o homem. Aliás, eu gostaria de me deter nesse ponto.
“OS MAMILOS DO HOMEM TAMBÉM SÃO FUNDAMENTAIS PARA O ATO SEXUAL. MAS POUCA GENTE SABE DISSO”.
STATUS – Todo ouvidos.
ELSIMAR – O mamilo, tanto do homem como da mulher, é fundamental para um ato sexual completamente satisfatório, e pouca gente sabe disso. É através do mamilo que se estimula toda a área genital. O processo é o seguinte: quando se estimula o mamilo, vai uma mensagem para a córtex, que repassa essa mensagem para a hipófise e faz com que a hipófise libere uma substância chamada ocitocina. A ocitocina é um hormônio da hipófise, cuja função mais conhecida é fazer com que o leite saia. A mulher que está amamentando não derrama leite continuamente, mas, quando o bebê mama, o leite vem. Se ela não está amamentando, essa ocitocina é liberada, passa para o sangue todo e provoca contrações nos ovários e nas trompas, que são extremamente agradáveis para a mulher. Ai ela diz: “Mas que homem maravilhoso, que me provoca todas essas sensações!” Ela não sabe que o homem maravilhoso é a ocitocina…(Risos)
STATUS – E no homem, como é que é?
ELSIMAR – Se o homem é estimulado no mamilo, a ocitocina também é provocada, mas, como ele não tem leite para produzir, ela desce, atinge os genitais, provoca contrações no testículo, vasocongestão pélvica e ele têm uma super ereção. Ele pode ter uma ereção somente com a estimulação do mamilo. Aliás, o homem maduro deveria se valer disso como principal recurso para obter uma ereção, quantas quiser e na hora em que quiser. Nós descobrimos isso aqui na Bahia e ensinamos para o mundo todo, através dos bolsistas da Organização Mundial de Saúde.
STATUS – Então foi uma grande contribuição brasileira ao tesão universal. Mas, voltando à outra pergunta, como se explica que certas pessoas pareçam desinteressadas da própria mulher de vez em quando?
ELSIMAR – Porque, biologicamente, o homem não foi feito para viver com uma mulher só, e eu quase que diria vice-versa.
STATUS – Por que quase?
ELSIMAR- Porque não é exatamente a mesma coisa. Nós temos que partir do princípio de que o homem, a mulher e o ato sexual existem em função da reprodução. A natureza criou uma necessidade imperiosa dos machos praticarem o ato sexual e compensou isso com o prazer. Na fêmea, a natureza não criou isso, porque ela pratica o ato sexual queira ou não queira. Veja a galinha: ela está na dela, vem aquele bruto, sobe nela e faz. A fêmea humana é diferente, porque já está num grau bastante evoluído em relação às outras fêmeas. Já o homem é igual aos outros machos. A mulher desenvolveu no ato sexual uma fonte de prazer que não existe nas outras fêmeas, e essa fonte de prazer vai aumentando á medida que ela amadurece.
STATUS – Explique melhor.
ELSIMAR – A mulher jovem leva um tempão para se estimular sexualmente; a mulher madura, só um tempinho. A mulher de 35, 40 anos, corresponde a um homem de 20, porque ela pode ter múltiplos orgasmos, se estimula com muita facilidade se satisfaz rapidamente. A natureza não elaborou isso com o propósito de dar prazer a ninguém. O objetivo da natureza é fazer a fêmea aceitar o macho para ter filho – e esta é a fêmea jovem, que quase não tem prazer sexual porque o prazer do jovem macho é muito rápido, não da tempo para ela. Ele ainda não aprendeu a controlar aquela ereção por muito tempo e não permite que ela sinta prazer. Então, o que acontece? Feito o filho, ele deveria perder o interesse por ela para que pudesse nascer o interesse por outras – porque o que a natureza quer é que o macho faça filhos no maior número possível de fêmeas. Se ele se limitasse aquela que está com o filho na barriga, ele ficaria sem função na Terra. Mas, pelas leis que nós criamos – e que são boas porque não temos outras -, ele é obrigado a viver vinculado aquela que está grávida ou amamentando, e por quem ele não tem nenhum desejo sexual. É o processo cultural que faz com que as pessoas se respeitem e se admirem, por outras razões que não o aspecto sexual.
STATUS – Não é um pouco cruel?
ELSIMAR – Eu faço questão de dizer que não estou distinguindo entre o que é certo ou errado. Estou distinguindo entre o que é verdadeiro ou falso. E o verdadeiro é isso: o macho cobriu fêmea, perde o interesse por ela e há até um mecanismo para fazê-lo perder esse interesse.
“O CHEIRO QUE O HOMEM DEIXA NA MULHER, INIBE UMA NOVA EREÇÃO DELE. MAS SE ELA TOMAR UM BANHO…”
STATUS – Qual é?
ELSIMAR – O cheiro de macho que ele deixa nela, e que é inibidor da ereção dele. É preciso que ela vá tomar um banho, colocar perfume, apagar a luz e voltar como se fosse outra, para ele ter desejo de novo. Quer dizer, estou figurando uma situação humana, mas entre os animais, se você pegar uma fila de novilhas, todas no cio, e apresentar para um reprodutor, ele cobre a primeira; você traz a segunda, ele cobre; etc., etc. Um animal desses pode cobrir 100 vezes. Então, você pega uma que ele já cobriu e bota de novo na fila, para enganar o bicho. Ele dá uma cheirada nela e vai pastar, porque ela está com o cheiro de sêmen dele. E sabe por que a natureza faz isso? Porque ela só quer sexo para que se façam filhos e não vai querer que ele desperdice o sêmen dele numa fêmea que já está inseminada. Essa dificuldade que o macho tem de manter relações sexuais com a mesma fêmea é chamada, em todos os livros de biologia, de efeito Coolidge, em homenagem aquele presidente dos Estados Unidos nos anos 20, Calvin Coolidge.
STATUS – O que o Coolidge teve a ver com isso?
ELSIMAR – (Risos) – Teve muito, porque ele era um presidente que gostava muito de mulheres nas horas vagas e tinha um grande número de aderentes… Aliás, como a maioria dos presidentes americanos – e eu até diria que como a maioria dos presidentes… (Risos) Pois bem: enquanto o Coolidge se divertia a noite, a Sra. Coolidge se queixava da dificuldade de ter um encontro com o presidente. Ela dizia: “A Presidência acabou com a nossa vida sexual!” E ele respondia: “Minha filha, isso é da idade, nós já estamos velhos, eu sou presidente dos Estados Unidos, você acha que eu ainda tenho cabeça para pensar em sexo? É uma vez por ano mesmo e você se conforme.” Um dia, os dois foram a uma exposição agrícola em Filadélfia, e a Sra. Coolidge foi apresentada a um cavalo, um garanhão que, apesar de velho, era imbatível como reprodutor. Inseminava centenas de vezes por ano. A Sra. Coolidge ficou entusiasmada e foi contar isso para o presidente. E que ele perguntou de volta: “Mas com a mesma égua?” É esse o efeito Coolidge…
“O PÊNIS SÓ DÁ PRAZER AO HOMEM. O QUE DÁ PRAZER A MULHER É A MÃO. MAS ALGUMAS DISCORDARÃO DE MIM.”
STATUS – (Risos) – Existe na sua clínica uma certa freqüência de casos de mulheres que, apesar de estarem na faixa dos 30 anos, nunca tivera, verdadeiro prazer sexual?
ELSIMAR – Eu diria que, entre as minhas pacientes, há uns 30% de mulheres com mais de 10 anos de casadas que ainda não tiveram prazer numa relação sexual. Um dos motivos é que elas pensam que vão ter algo mais numa relação sexual do que o prazer que elas tem se masturbando – e não conseguem. O orgasmo da mulher se distribui em três ramos: clitoridiano, vaginal e anal. A estimulação em qualquer um desses ramos pode conduzir ao orgasmo, mas, anatomicamente, o clitoridiano é o mais desenvolvido pelo uso. O vaginal é muito pouco estimulado e, depois do primeiro filho, fica mais difícil ainda, porque a pressão contra a parede não permite muita enervação. Aliás, a principal enervação vaginal é no assoalho da vagina.
STATUS – Atenção leitores.
ELSIMAR – (Risos) – Enfim, o orgasmo pode ser devido ao estímulo de qualquer dessas três zonas, mas lugar onde ele ocorre mesmo é a cabeça. Então, a mulher pensa que o orgasmo vaginal tem mais valor do que o clitoridiano é uma bobagem. Ela pode até achar que ter por causa do efeito psicológico pode estar sendo penetrada, mas, se houvesse um aparelhinho capaz de medir a intensidade do orgasmo nos eixos cerebrais, ela veria que os orgasmos mais intensos são produzidos onde a enervação é mais intensa, e que é a região clitoridiana.
STATUS – Então a saída para essa mulher é a masturbação?
ELSIMAR – É, mas a mulher casada se recusa a se masturbar, porque acha que isso não é para ser feito e que o marido tem de dar a ela um prazer vaginal. Como ele não consegue, ela se queixa. Então o médico pergunta: “E quando você se masturba?” E ela: “Ah, me masturbando sim, mas eu não vou fazer isso, não é?” Pois o marido deve ser instruído a fazer isso nela e ela deve consentir que ele o faça.
STATUS – Por que um certo preconceito contra o coito anal?
ELSIMAR – É um preconceito explicável. O coito anal dá a impressão de alguma coisa antinatural, porque o “natural” é o coito reprodutivo, o que se faz através da vagina. E o ser humano procura fazer as coisas de acordo com a sua função: olho é pra olhar, nariz é para cheirar. E o ânus não é para ser penetrado naturalmente. Mas o fato de o ânus ter terminações nervosas que podem se transformar em fonte de prazer fizeram com que essa região do corpo fosse utilizada também no sexo recreativo.
STATUS – Por que, então, esse certo preconceito, mesmo no que o senhor chama de sexo recreativo?
ELSIMAR – Algumas pessoas criam uma espécie de resistência á manipulação da região anal porque ela costuma ser dolorosa. Há a existência, por exemplo, de varizes ou fissuras anais. A própria distensão anal pode ser dolorosa. O fato é que as pessoas que praticam o coito anal o fazem com muita naturalidade e não têm com isso nenhum complexo de culpa. Mas é importante que ele só seja praticado por quem vê nele uma fonte de prazer – e não porque o casal vizinho o pratica.
STATUS – Se fosse possível fazer uma aferição do orgasmo, o senhor diria que o homem leva desvantagem porque a mulher pode ter orgasmos de três fontes e o homem só de uma, que é o pênis?
ELSIMAR – Não, porque a distribuição da enervação no homem é semelhante. Ele tem enervação peniana, escrotal e anal. A que corresponde á enervação clitoridiana na mulher é a peniana, que vai para a glande. A vagina é a que vai para o saco escrotal; e a anal na mulher é a anal do homem. Não é incomum que os homossexuais tenham orgasmos anais, nem que muitas mulheres tenham prazer anal, principalmente se elas praticam, mais do que o coito anal, a estimulação anal.
STATUS – Há diferença?
ELSIMAR – E muita, porque o principal órgão de prazer do homem não é o pênis. É a mão. O pênis é o principal órgão reprodutivo do homem, mas dificilmente poderá proporcionar o prazer que as mãos proporcionam. Porque, com as mãos, você oferece um tipo de estímulo que é mais adequado para cada pessoa. A mão pode exercer maior ou menor pressão nas regiões enervadas da mulher muito melhor do que o pênis. O pênis só é ideal naquelas relações sexuais muito simplistas, visando á reprodução: penetrou, ejaculou, saiu. O sexo recreativo exige muito mais a participação da mão, do beijo. Na região clitoridiana, por exemplo, você só pode imprimir a pressão desejada com o pênis se tiver o auxílio das mãos.
STATUS – É verdade.
ELSIMAR – Está vendo? As mulheres podem ter um grande respeito pelo seu órgão reprodutivo, mas você sabe que ele não depende da sua vontade, ele tem vontade própria. O pênis só consegue dar uma pressão vaginal e olhe lá – e nem sempre na região que deve.
STATUS – E qual é essa região?
ELSIMAR – Como eu disse antes, ele deveria pressionar o assoalho da vagina e a região clitoridiana, fazendo uma curva. Mas nem sempre isso é possível, porque o indivíduo precisaria ter uma ereção que ele controlasse perfeitamente, como quem pilota um avião ou dirige um automóvel. Mas isso não acontece na prática, por que o pênis é um órgão cego e inútil. Só serve mesmo para fazer filhos.
STATUS – Pronto. Acabou com o mito do pinto.
ELSIMAR – (Risos) Mas é isso mesmo. O pênis só dá prazer ao homem. O que dá prazer á mulher é a mão. Claro que uns 20% das mulheres vão discordar de mim, porque elas sentem prazer regularmente numa relação peniana. Mas elas são minoria. Para a mulher, a relação sexual começa com um estímulo alto – geralmente um comprometimento emocional, que deve ser seguido da utilização do tato em todas as áreas do corpo. Quando se trata de sexo, o tato é mais importante do que a visão, o olfato ou qualquer outro sentido.
STATUS – O senhor poderia desenvolver isso?
ELSIMAR – O olfato foi liquidado pelo perfume e pelo desodorante. A visão foi liquidada pelo sexo noturno com a luz apagada. A audição dificilmente tem participação sexual. No começo do ato, o ouvido pode até participar, quando há grande vocalização, mas isso é um processo de entrosamento que leva tempo, porque pode ser também inibidor se a vocalização for inadequada.
STATUS – No momento do orgasmo o ouvido é desligado, não é?
ELSIMAR – Tudo é desligado – somente o tato funciona. Ele não pode ser embotado. O tato nos permite perceber a excitação da parceira como também provocar essa excitação. É por isso que todo relacionamento sexual deveria começar pelo estímulo mamário. Você sabe que um homem está pronto quando ele tem uma ereção. No caso da mulher, ela está pronta quando tem uma transudação. A ereção resulta de um enchimento de sangue no pênis: no caso da mulher, o sangue que encheria o pênis também desce e ataca a vagina pelos dois lados. Essa congestão nas paredes da vagina faz com que a parte liquida do sangue, a água, saia através da parede. Aquele líquido é sangue filtrado – é um transudato, não é uma secreção. Eu procuro sempre fazer uma comparação entre o homem e o animal, porque o homem acha que é um ser diferente e que a sexualidade dele não tem nada a ver com a reprodução. Mas só tem a ver. Pegue um animal mais próximo do homem, como o macaco rhesus, por exemplo. O líder do grupo pode ser o dono das fêmeas, mas não copula com todas – só com as três ou quatro que são suas favoritas. As outras podem ser aparentemente tão atraentes quanto aquelas três ou quatro, então porque ele só copula com estas? Porque são as que produzem mais secreção odorífera, na fase em que estão ovulando. Como elas não ovulam na mesma época, ele está sempre copulando. Agora, pegue uma dessas favoritas e lhe dê pílula anticoncepcional. Sabe o que acontece? Ele descobre que existem outras fêmeas por ali que antes ele não enxergava e vai copular com elas.
“A MULHER EXCITA MAIS O HOMEM QUANDO ESTA NA FASE OVULATÓRIA. É QUANDO FICA MAIS APETITOSA.”
STATUS – Como é que isso se dá no homem?
ELSIMAR – Da mesma forma, não existe nada que excite mais um homem do que uma mulher na fase ovulatória. Do 10° ao 14° dia é que ela está realmente apetitosa e em condições biologicamente favoráveis para provocar nele uma resposta, para testá-lo ereticamente. É que a mulher, como todo animal na fase pré-ovulatória – sob a ação dos hormônios estrogênicos -, tem um comportamento que favorece o ato sexual. Ela se sente ativa, alegre, disposta, comunicativa. É a fase em que ela quer sair por aí, e em que a natureza a empurra para perto dos machos. Já depois que ela ovula, ocorre o contrário.
STATUS – O que acontece?
ELSIMAR – Ela começa a produzir a progesterona, que é um hormônio que a inibe. Ela fica sonolenta, não quer sair de casa, não fica a fim de nada. A progesterona injetada num rato o põe para dormir. A mulher, no começo da gravidez, produz tanta progesterona que fica sonolenta o dia todo. E esse hormônio ela produz todo mês, durante as duas semanas seguintes à ovulação, e isso lhe cria um bocado de problemas: ela se torna menos inteligente, menos sociável, distraída, agressiva, anti-social.
STATUS – Voltando ao homem, o senhor consegue identificar alguma contra-indicação ao ato sexual?
ELSIMAR – (Risos) – Ao ato sexual, não – mas, do ponto de vista da fertilidade, ao excesso de ato sexual, sim. Veja este exemplo. Eu tenho um paciente de 54 anos, casado, que pratica o ato sexual pelo menos cinco vezes por dia e que me procurou por causa de um problema de infertilidade. Entre parêntese, é o único paciente que eu conheço que tem esse tipo de performance. A infertilidade dele é causada por isso – porque o sexo muito freqüente torna ineficaz o esperma, já que o sêmen fica tão livre de espermatozóides que não chega nem a sujar o colo do útero da mulher. O curioso é que foi a mulher dele, que tem 25 anos, que veio se queixar comigo.
STATUS – Mas que mal-agradecida!
ELSIMAR – Foi o relato dela: “Ele acorda de manhã e dá a primeira. Sai para o trabalho, que fica perto de casa, e lá pelas 10 da manha vem merendar. Mas eu sei qual é a merenda dele. (Risos) Mais uma. Volta para o trabalho e vem para casa almoçar. Outra. Vai trabalhar de novo e volta para casa lá pelas 3 da tarde, para um lanche. O lanche é aquele. E, quando chega de noite, quer pelo menos mais uma, porque todo mundo faz sexo de noite. Com esta já são cinco!”, diz ela.
STATUS – A médio prazo, o que pode acontecer a um homem que faz sexo cinco vezes por dia?
ELSIMAR – Do ponto de vista sexual, cada vez melhor.
STATUS – Claro. Mas, do ponto de vista da fertilidade, essa diminuição do sêmen provocada pela superatividade é reversível?
ELSIMAR – Sim. Inclusive eu já receitei isso para ele, e ele está fazendo um esforço enorme para só ter relação uma vez por dia, para ver se o filho sai. (Risos) Aliás, o que eu observo na minha clínica, no que diz respeito à freqüência sexual, é que um homem que tenha muita liberdade aumenta bastante essa freqüência com a idade.
STATUS – Será por falta de mercado, já que aparentemente as moças de 20 preferem os homens mais maduros?
ELSIMAR – Eu não diria que é por falta de mercado, porque os casados jovens também não são muito freqüentes, por tudo aquilo que nós já falamos. Existe um fator que é importante, mas que eu me sinto meio constrangido em explicar, para que não digam que estou querendo corromper os costumes. (Risos) É que às vezes, uma relação extraconjugal estabelece a relação conjugal. É comum: o indivíduo está frio sexualmente. Arranja uma amante, volta a praticar o sexo e, conseqüentemente, pratica também com a esposa. Há até casos de mulheres que perguntam: “Se meu marido arranjar outra mulher, ele não voltará a ser o que era?”
STATUS – Isso acontece na sua clínica?
ELSIMAR – Acontece na minha clínica. E deixe eu lhe contar uma história que prova que a freqüência sexual pode ser importante para a fertilidade. O homem produz espermatozóides continuamente e, se ele quer fazer filhos, não deve conservar o sêmen mais do que uns sete dias. Tem que esvaziar aquilo, para produzir um sêmen relativamente fresco. Mas a história é a seguinte: tratava-se de um casal que se casou já maduro, sem grande atração sexual um pelo outro, mas que queria ter um filho juntos. Então eles marcavam o dia da ovulação e tinham relação. Fora disso, nada. E também nada do filho chegar. Examinei o casal e vi que não tinham nada de anormal, exceto que deviam aumentar a freqüência sexual. Chegou a um ponto em que o homem se convenceu de que era infértil. Até que ele começou a ter relações com a secretária e ela ficou grávida. Ele me procurou apavorado, certo de que o filho não era dele. No fundo, estava só preocupado com a possível traição daquela amante. Eu lhe disse: “De fato, o seu espermograma não era bom, mas, como você aumentou a sua freqüência sexual, pode ter melhorado. Não quer fazer outro?” Ele disse que ia pensar, desapareceu e só voltou daí a uns três meses, ainda mais assustado: “Doutor agora é minha mulher que está grávida! Estou num drama horrível. Será que as duas estão grávidas de outros homens? Vamos fazer o espermograma.” Fiz e estava normalíssimo. O que tinha acontecido é que ele começou a ter relações com a secretária, o esperma dele ficou bom e ele fez filho nela. Quando ela lhe disse que estava grávida ele achou que ela o tinha enganado, deixou de ter relações com ela e passou a ter com a própria mulher – porque não ia arranjar uma terceira. Já com o esperma melhorando, ele acabou fazendo um filho na própria mulher. Então você pode perguntar: quer dizer que é uma receita boa para a infertilidade que o sujeito arrume outra? E eu responderia que não é bem assim, mas que a freqüência do ato sexual melhora a qualidade do sêmen.
STATUS – Isso não choca com a história do camarada que fazia sexo cinco vezes por dia?
ELSIMAR – Ah, mas também cinco vezes por dia já é um exagero! Isso esgota qualquer vesícula seminal. Mas, para quem fazia uma vez por mês e passou a fazer duas ou três vezes por semana, já é uma freqüência boa para a fecundação. (Risos)
STATUS – Vamos passar a um assunto que costuma ser dramático para alguns homens: a ejaculação precoce. Existe alguma aferição para determinar, em minutos, segundos ou coisa parecida, o que é uma ejaculação precoce?
ELSIMAR – Existem diversas maneiras de definir, mas, tecnicamente, ejaculação precoce é aquela que ocorre antes de haver a penetração. É claro que existem muitos casos de ereção prolongada, em que o indivíduo ejacula antes de penetrar. Mas o indivíduo, nesse caso, não se queixa. O pior da ejaculação precoce é que, na maioria das vezes, é provocada por uma ereção incompleta. Como o homem, depois que ejacula, entra num período refratário de duração variável, está incompatibilizado a continuar com o ato sexual. Ao contrário da mulher, que não tem uma limitação dessa natureza. Daí a situação terrível de impotência que se encontra num ejaculador precoce. Ele se sente péssimo, porque nunca consegue realizar um ato sexual.
STATUS – E muito menos dar prazer á parceira.
ELSIMAR – É. Há também os casos em que a parceira demora muito para alcançar o orgasmo, e ele não se controla. Existem tratamentos relativamente acessíveis para a ejaculação precoce, que não exigem drogas, remédios nem operações, mas só de um treinamento: o indivíduo se masturba até o momento em que sente a iminência do orgasmo. Neste momento, ele interrompe o processo, deixa passar aquela sensação e recomeça o processo masturbatório. Faz isso durante um mês. No segundo mês, é a parceira dele que faz isso nele, também interrompendo na hora H. Numa terceira etapa, eles começam a ter um ato sexual também controlado, que é como se fosse uma masturbação, mas complementado pela parceira. Finalmente, ele está pronto. É uma técnica americana e bastante eficaz.
STATUS – O que provoca aquele fenômeno contrário, mais raro de acontecer, que é o do sujeito que fica duas, três horas, com uma fortíssima ereção e não consegue ejacular, por mais estimulação mecânica que tenha?
ELSIMAR – Bem, exceto o priapismo, que é uma doença, existe essa ejaculação duradoura, em que o indivíduo não alcança o orgasmo, e que geralmente resulta de uma prática muito freqüente do ato sexual. Quer dizer, á medida que o indivíduo repete o ato sexual, vai alargando o tempo para alcançar o orgasmo. A segunda ereção num curto espaço de tempo será sempre mais duradoura que a primeira, e assim por diante. Mas, como eu disse antes, a manipulação do mamilo fará com que o orgasmo seja relativamente fácil.
STATUS – Vamos falar agora do assunto que tornou o senhor bastante conhecido em todo o mundo: as suas pesquisas sobre a pílula anticoncepcional masculina.
ELSIMAR – O começo do estudo da pílula masculina foi quase uma imposição feminista. Começou num congresso médico na Califórnia, há cerca de dez anos, quando as mulheres presentes fizeram uma observação de que, quando se tratava de anticoncepcionais, elas eram sempre cobaias dos homens. Porque não uma pílula para o homem? Aquilo calou fundo no espírito de todos nós e formamos um grupo internacional de pesquisas, sediado em Nova York, mesmo sabendo que era uma empreitada difícil – porque a mulher produz apenas um óvulo por mês e o homem produz milhões de espermatozóides por dia. Como inibir esses milhões? Mas começamos a trabalhar e desenvolvemos uma pílula capaz de provocar uma zoosperrmia – quer dizer, tornar os homens inférteis. O indivíduo tomava semanalmente essa pílula e, ao fim de três meses, ficava infértil. E até que ela funcionava muito bem, porque algumas centenas de voluntários que tratávamos ficaram azoospérmicos. A experiência foi tão bem sucedida que chegamos a anunciar a primeira pílula anticoncepcional masculina e a repercussão foi enorme, inclusive na China onde se pesquisava uma pílula semelhante. Mas depois notamos que, em alguns lugares particularmente no Chile, os homens apresentavam uma certa intolerância hepática à pílula, e ela foi arquivada. Aí partimos para uma outra possibilidade: começamos trabalhar com um anticoncepcional masculino injetável – aliás, uma descoberta nossa aqui na Bahia que até hoje é o principal tipo de anticoncepção usado em vários países, como na Tailândia, por exemplo. Tentamos usar esse tipo de anticoncepcional para o homem e funcionou bem – mas descobrimos que, em 10% deles, a injeção não provocava a azoospermia. Daí, para nós, praticamente morreu esse segundo tipo. Então soubemos que os cientistas chineses estavam pesquisando alcalóides e substâncias extraídas de vegetais que contivessem uma substância chamada gossipol, que tem um efeito anticoncepcional marcante no homem. Essa substância é encontrada na semente do algodão e no hibisco, que nós temos aqui para dar e vender. São as duas alternativas que nos interessam no momento e estamos trabalhando nelas.
STATUS – Essa azoospermia é permanente?
ELSIMAR – Não, só dura enquanto o paciente estiver consumindo a droga. O tempo que ele leva para voltar ao normal é que varia em relação á idade do paciente e no tempo em que ele levou tomando a droga. Se ele ficou azoospérmico durante um ano, recupera a fertilidade em menos de três meses. Mas, se tomou gossipol durante cinco anos, levará mais de dois para recuperar a fertilidade.
STATUS – Aí complica.
ELSIMAR – Complica para nós, que estamos preocupados com a reversibilidade desse tratamento. Mas, para os chineses, não complica nada, porque eles querem ficar inférteis definitivamente, depois de fazerem o único filho a que têm direito.
STATUS – Quer dizer que a pesquisa de vocês está empatada?
ELSIMAR – Não, de modo algum, porque continuamos medindo os pacientes que tomaram gossipol para ver o tempo que eles levam para reverter. Alguns ainda não reverteram. E temos gente do Brasil inteiro, até hoje, que tomaram aquele anticoncepcional e que, como deu certo, continuam tomando.
STATUS – Então, esse anticoncepcional é encontrável no Brasil e está à venda?
ELSIMAR – Está à venda, em todas as farmácias, mas infelizmente eu não lhe possa dar o nome nem a descrição do produto – por enquanto. No momento em que encerramos a nossa investigação, cessou a responsabilidade pelo acompanhamento desses pacientes. Se eles continuam tomando, é porque têm-se dado bem com ele.
STATUS – Um breve histórico: com a pílula feminina, a mulher passou a ter um controle sobre a própria fertilidade, e isso provocou toda uma liberação sexual da mulher. Se, com a pílula masculina, o homem volta a ter esse controle, elas não saem levando prejuízo?
ELSIMAR – Sua pergunta é ótima e você tem razão. Como eu lhe disse, o começo da pesquisa sobre a pílula do homem foi provocado pelas feministas, na Califórnia. Alguns anos depois, num congresso da ONU, em Bucareste, fui encarregado de apresentar os primeiros resultados sobre a pílula masculina, certo de que ia receber aplausos de todas as mulheres presentes. Pois nunca fui tão bombardeado. Elas disseram: “Pois então o senhor acha que, depois de ter levado anos para controlar a nossa fertilidade e resolver como, quando e com quem queremos fazer sexo, nós vamos devolver para o homem esse galardão? Realmente, nunca vimos um machista como o senhor!” (Risos)
STATUS – (Risos).